quinta-feira, 12 de junho de 2014

Capítulo 14

 A onda de satisfação que me arrebatou naquele momento foi absurdamente 
poderosa. “Você é capaz de imaginar como vai ser complicada a nossa relação, Joseph? 
Ela mal começou e eu já estou exausta. Além disso, tenho umas coisas para resolver 
comigo mesma, além do emprego novo... da minha mãe maluca...” Meus dedos cobriram 
sua boca antes que ele a abrisse. “Mas acho que vale o esforço, e quero muito você. Então não tenho escolha, não é?” 
 “Demetria. Você é terrível.” Joseph me levantou do chão, posicionando um dos braços 
abaixo do meu traseiro para fazer com que minhas pernas enlaçassem sua cintura. Ele me 
beijou com força e esfregou o rosto contra o meu. “Nós vamos dar um jeito.” 
 “Até parece que vai ser fácil.” Eu sabia que era uma pessoa difícil de lidar, e ele estava se mostrando tão difícil quanto. 
 “O que é fácil não tem graça.” Ele me carregou até o bar e me sentou em um banquinho. Tirou a tampa do meu prato e revelou um enorme cheesebúrguer com fritas. Ainda estava quente, graças à pedra aquecida sob a bandeja. 
 “Humm”, murmurei, percebendo como estava com fome. Depois daquela conversa, 
meu apetite voltou com toda a força.  Ele abriu meu guardanapo com um movimento brusco e o estendeu sobre meu colo, aproveitando para apertar meu joelho. Depois se sentou ao meu lado. “E então, essa coisa, como funciona?” 
 “Você pega com a mão e come com a boca.” 
 Ele me lançou um olhar de falsa censura que me fez rir. Era bom poder sorrir. Era 
bom estar com ele. Pelo menos por um tempinho. Dei uma mordida no meu sanduíche, 
soltando um gemido quando senti todo o sabor. Era um cheesebúrguer tradicional, mas 
delicioso. 
 “Bom, né?” 
 “Muito bom. Na verdade, acho que não me incomodo de ficar com um cara capaz 
de oferecer sanduíches tão bons.” Limpei a boca e as mãos. “Você faz questão de 
exclusividade?” 
 Quando ele pôs o lanche de volta no prato, ficou absolutamente imóvel. Não saberia 
nem por onde começar a adivinhar no que estava pensando. “Pensei que isso fosse parte do acordo. Mas vou deixar bem claro, pra que não reste dúvida: não existe mais nenhum 
homem na sua vida, Demetria.” 
 O caráter imperativo de seu tom de voz e a frieza de seu olhar me fizeram estremecer. Eu sabia que ele tinha um lado cruel; havia aprendido a identificar e evitar homens com esse aspecto sombrio no olhar. Mas os alarmes não soaram para Joseph como 
deveriam. “Mulheres tudo bem?”, perguntei para amenizar a conversa. 
 Ele ergueu as sobrancelhas. “Eu já sabia que seu colega de apartamento era bissexual. Você também?” 
 “Seria um incômodo pra você?” 
 “Dividir você com qualquer um seria um incômodo. Está fora de cogitação. Seu 
corpo é meu, Demetria.” 
 “E o seu é meu? Exclusivamente?” 
 Seus olhos brilharam. “Sim, e espero que você faça proveito dele com frequência e 
em excesso.” 
 Ora, então... “Mas você já me viu nua”, provoquei, baixando o tom de voz. “Já sabe 
o que vai ter em troca. Eu não. Adorei o que vi de você até agora, mas não foi muita coisa.” 
 “Podemos resolver isso já.” 
A ideia de vê-lo tirando a roupa pra mim fez com que eu me inquietasse no assento. 
Ele percebeu e abriu um sorriso perverso. 
 “Melhor não”, eu disse, já lamentando. “Já cheguei atrasada do almoço na sexta.” 
 “Hoje à noite, então.” 
 Engoli em seco. “Com certeza.” 
 “Vou terminar tudo até as cinco.” Ele voltou a comer, completamente à vontade com o fato de ter acrescentado uma sessão de sexo de virar a cabeça aos nossos compromissos para o dia. 
 “Não precisa.” Abri o pequeno vidro de ketchup que havia na bandeja. “Preciso ir à 
academia depois do trabalho.” 
 “Podemos ir juntos.” 
 “Sério?” Virei o vidro de cabeça para baixo e dei um tapinha no fundo.  Ele o tirou de mim e usou sua faca para tirar o ketchup e pôr no meu prato. “Acho até melhor gastar um pouco de energia antes de arrancar sua roupa. Assim você vai conseguir andar amanhã.” 
 Olhei bem para ele, perplexa por ter dito aquilo sem a menor cerimônia e com uma 
expressão no rosto que demonstrava que não era apenas uma brincadeira. Senti meu sexo 
latejar de ansiedade. Não seria nada difícil ficar absolutamente viciada em Joseph Jonas. 
 Comi algumas batatas fritas, imaginando se não havia ninguém mais viciada em 
Joseph. “Magdalene pode ser um problema.” 
 Ele engoliu um pedaço do sanduíche e depois deu um gole em sua água mineral. 
“Ela me disse que falou com você e que a conversa não foi nada boa.” 
 Admirei mentalmente a trama dela e sua tentativa de me jogar para escanteio. Eu teria que tomar muito cuidado com ela, e Joseph precisaria fazer alguma coisa a respeito — 
como tirá-la do caminho, e ponto final. 
 “Não, não foi nada boa”, confirmei. “Não gostei nem um pouco de saber que você não respeita as mulheres com quem trepa e que, assim que você enfiou seu pau em mim, 
estava tudo acabado.” 
 Joseph ficou paralisado. “Ela disse isso?” 
 “Exatamente isso. E também que está mantendo você em banho-maria até estar 
pronto pra sossegar.” 
 “Ah, é mesmo?” Ele baixou o tom de voz até se tornar quase sinistro. 
 Senti um nó no estômago. Sabia que a partir dali as coisas poderiam dar muito certo 
ou muito errado. Tudo dependia do que Joseph diria a seguir. “Você não acredita em 
mim?” 
 “Claro que acredito.” 
 “Ela pode ser um problema pra mim”, repeti. Não queria deixar o assunto morrer. 
 “Ela não vai ser um problema. Vou falar com ela.” 
 Detestei a ideia de que ele falasse com ela, porque me deixou morta de ciúmes. 
Achei melhor deixar isso bem claro logo de início. “Joseph...” 
 “Sim?” Ele já havia terminado o sanduíche e estava comendo as batatas. 
 “Sou muito ciumenta. Isso me tira do sério.” Remexi minhas batatas. “Talvez você 
queira pensar a respeito. Está mesmo disposto a lidar com uma pessoa com problemas de 
autoestima como eu? Foi uma das coisas que me fez pensar duas vezes antes de ficar com 
você. Eu sabia que ficaria maluca vendo a mulherada babando por você, sem poder fazer 
nada a respeito.” 

 “Agora você tem o direito de fazer algo a respeito.”
“Você não está me levando a sério.” Balancei a cabeça e dei outra mordida no 
sanduíche. 
 “Nunca falei tão sério na minha vida.” Inclinando-se para a frente, Joseph passou a ponta do dedo no canto da minha boca, depois lambeu o restinho de molho que tirou de lá. 
“Você não é a única possessiva aqui. Eu também vigio bem de perto o que é meu.” 
 Disso eu não duvidei nem por um segundo. 
 Dei outra mordida e comecei a pensar na noite que teria pela frente. Estava ansiosa. 
Absurdamente. Estava louca para ver Joseph sem roupa. Louca para passar minha boca 
pelo corpo inteiro dele. Louca para ter outra chance de fazê-lo perder a cabeça. Eu estava quase desesperada para senti-lo em cima de mim, avançando contra mim, entrando bem fundo dentro de mim... 
 “Continue pensando nisso”, ele disse asperamente, “e vai se atrasar de novo.” 
 Olhei para ele com uma expressão de surpresa. “Como você sabe o que estou 
pensando?” 
 “Você fica com essa cara quando está com tesão. Quero ver você assim sempre que 
possível.” Joseph pôs a tampa sobre sua bandeja e se levantou, sacando do bolso um cartão de visitas e colocando na minha frente. Dava para ver que tinha o número do celular e da casa dele escritos à mão. “É uma coisa meio banal pra se dizer depois do que acabamos de conversar, mas preciso do número do seu celular.” 
 “Ah.” Meus pensamentos foram arrancados das imediações da cama. “Preciso 
comprar um primeiro. Está na minha lista.” 
 “O que aconteceu com o que você estava usando na semana passada?” 
 Franzi o rosto. “Minha mãe estava usando para rastrear minha movimentação pela 
cidade. Ela é do tipo... superprotetora.” 
 “Entendo.” Ele acariciou meu rosto com as costas da mão. “Era disso que você estava falando quando disse que sua mãe vivia te espionando.” 
 “Infelizmente.” 
 “Muito bem, então. Cuidamos da questão do telefone antes de ir à academia. É 
importante para sua segurança. E eu quero poder ligar pra você sempre que quiser.” 
 Deixei de lado a parte do sanduíche que não conseguiria comer e limpei as mãos e a 
boca. “Estava uma delícia. Obrigada.” 
 “O prazer foi todo meu.” Ele se inclinou e me deu um beijo de leve. “Vai precisar 
usar o banheiro?” 
 “Vou. Preciso da minha escova de dentes, que está na bolsa.” 
 Poucos minutos depois, eu estava em um lavabo escondido atrás de uma porta que se incorporava perfeitamente ao revestimento de mogno que havia na parede atrás dos 
monitores de tela plana. Escovamos os dentes lado a lado diante da pia dupla, olhando nos 
olhos um do outro pelo espelho. Era uma coisa absolutamente corriqueira, normal, e ainda 
assim parecíamos felicíssimos. 
 “Desço com você até lá”, ele disse ao cruzar o escritório até o cabide. 
 Eu o segui, mas parei ao passar por sua mesa. Fui até ela e apontei para o espaço 
vazio diante da cadeira. “É aqui que você passa a maior parte do dia?” 
 “É.” Ele vestiu o paletó. Estava tão elegante que dava vontade de morder. 
 Em vez disso, pulei em cima da mesa. De acordo com o relógio, eu ainda tinha 
cinco minutos. Era o tempo de voltar à minha mesa, mas ainda assim... Não resisti à 
tentação de exercitar meus direitos recém-adquiridos. Apontei para a cadeira. “Sente-se aí.” 
 Ele pareceu surpreso, mas obedeceu sem discutir e se instalou tranquilamente no  assento. 
 Eu abri as pernas. “Mais perto.” 
 Ele veio deslizando com a cadeira, preenchendo o espaço entre as minhas coxas, 
lançou os braços em torno dos meus quadris e olhou para mim. “Muito em breve, Demetria, vou comer você bem aqui.” 
 “Agora eu só quero um beijo”, murmurei, inclinando-me para alcançar sua boca. 
Apoiando as mãos nos ombros dele para me equilibrar, passei a língua pelos seus lábios 
abertos; depois a pus para dentro e o provoquei bem de levinho. 
 Gemendo, ele me deu um beijo profundo, devorando minha boca de uma maneira 
que me deixou toda molhada. 
 “Muito em breve”, repeti com a boca colada à dele, “vou me agachar aqui e chupar 
você bem gostoso. Talvez até quando você estiver no telefone, brincando de ganhar 
dinheiro que nem no Banco Imobiliário. E você, senhor Jonas, vai passar pelo início e 
ganhar duzentas pratas.” 
 Ele sorriu, com a boca encostada na minha. “Já sei aonde está querendo chegar. Você vai me fazer perder a cabeça em tudo quanto é lugar com esse seu corpo todo durinho 
e sexy.” 
 “Está reclamando?” 
 “Meu anjo, eu estou é com água na boca.” 
 Eu ri daquele tratamento carinhoso, apesar de ter achado fofo. “Meu anjo?” 
 Ele concordou baixinho com um gemido e me beijou. 
 Mal podia acreditar na diferença que aquela hora a sós tinha feito. Deixei o escritório de Joseph em um estado muito diferente daquele em que tinha entrado. O toque de sua mão na parte inferior das minhas costas fez meu corpo tinir de excitação na saída, algo bem diferente do sofrimento da minha chegada até ali. 
 Acenei para Scott e sorri alegremente para a recepcionista de cara fechada. 
 “Acho que ela não gosta de mim”, falei para Joseph enquanto esperávamos o elevador. 
 “Quem?” 
 “Sua recepcionista.” 
 Ele se virou para lá, e a ruivinha abriu um sorriso radiante para ele. 
 “Olha só”, murmurei. “De você ela gosta.” 
 “Eu pago o salário dela.” 
 Eu sorri. “Sim, tenho certeza de que é só isso. Não tem nada a ver com o fato de 
você ser o homem mais sexy do planeta.” 
 “É isso que eu sou então?” Ele me prensou na parede e me fuzilou com um olhar de 
desejo. 
 Pus as mãos sobre seu abdome, lambendo seu lábio inferior para sentir seus 
músculos se enrijecerem ao meu toque. “Foi só uma observação.” 
 “Eu gosto de você.” Com as mãos espalmadas nas paredes de ambos os lados da minha cabeça, ele baixou a cabeça dele até a minha boca e me beijou com carinho. 
 “Eu também gosto de você. Aliás, você sabe que está no trabalho, não é?” 
 “Qual é a graça de ser o chefe se você não puder fazer o que quiser?” 
 “Humm.” 
 Quando o elevador chegou, agachei-me para passar sob seu braço e entrei. Ele 
partiu no meu encalço e me cercou como um predador, posicionando-se atrás de mim para me puxar para junto dele. Suas mãos me pegaram na altura dos bolsos da frente e se espalharam pelos ossos dos meus quadris, agarrando-me bem firme. O calor do seu toque, tão próximo de onde eu gostaria que ele estivesse, era uma espécie de tortura. Em retaliação, esfreguei minha bunda nele, e sorri quando ele ficou sem fôlego e de pau duro. 
 “Comporte-se”, ele advertiu. “Tenho uma reunião em quinze minutos.” 
 “Você vai pensar em mim quando estiver na sua mesa?” 
 “Com certeza. E você tem que pensar em mim quando estiver na sua. É uma ordem, 
senhorita Lovato.” 
 Deitei a cabeça no peito dele. Estava adorando aquele tom autoritário. “Não poderia 
ser de outro jeito, senhor Jonas, já que penso em você aonde quer que eu vá.” 
 Ele saiu junto comigo no vigésimo andar. “Obrigado pelo almoço.” 
 “Acho que eu é que deveria agradecer.” Eu me afastei. “Vejo você depois, Moreno 
Perigoso.” 
 Suas sobrancelhas se ergueram quando ouviu o apelido que inventei para ele. “Às 
cinco horas. Não me faça esperar.” 
 Um dos elevadores à esquerda chegou. Megumi saltou e Joseph subiu, com o olhar 
vidrado em mim até as portas se fecharem. 
 “Uau”, ela comentou. “Você se deu bem. Estou verde de inveja.” 
 Eu não tinha nada a dizer a respeito. Era muito recente, estava com medo de abrir a 
boca e azedar tudo. No fundo, eu sabia que essa alegria não poderia durar muito. Estava 
tudo indo bem demais. 
 “Demi.” Mark estava parado na porta da sala dele. “Posso falar com você um 
minutinho?” 
 “Claro.” Peguei meu tablet, apesar de saber pela gravidade de sua expressão e seu 
tom de voz que aquilo não seria necessário. Quando ele fechou a porta atrás de mim, minha apreensão só cresceu. “Está tudo bem?” 
 “Sim.” Ele esperou até que eu me sentasse e puxou a cadeira ao meu lado, e não a 
dele, do outro lado da mesa. “Não sei como dizer isso...” 
 “Pode dizer de uma vez. Eu vou entender.” 
 Ele me olhou com uma mistura de compaixão e vergonha. “Não é meu papel interferir. Sou seu chefe e tenho que respeitar certos limites, mas estou indo além deles porque gosto de você, Demi, e quero que continue trabalhando aqui por muito tempo.” 
 Senti um frio na barriga. “Que ótimo. Adoro meu trabalho.” 
 “Que bom, fico feliz.” Ele abriu um breve sorriso. “Só... tome cuidado com Jonas, 
certo?” 
 Pisquei, surpresa, aturdida com o rumo que a conversa tomava. “Certo.” 
 “Ele é inteligente, rico, gostoso... Entendo muito bem a atração. Por mais que eu 
seja apaixonado por Steven, fico meio balançado quando chego perto de Jonas. Ele tem 
uma coisa...” Mark estava falando depressa, claramente envergonhado. “E está na cara que ele está interessado em você. Você é bonita, esperta, sincera, atenciosa... Eu poderia dizer muito mais, porque você é mesmo ótima.” 
 “Obrigada”, eu disse baixinho, procurando não demonstrar o quanto estava chateada. Esse tipo de aviso de um amigo e o fato de saber que outros também me viam apenas como o brinquedinho da semana açoitavam implacavelmente minha insegurança. 
 “Não quero que você se magoe”, ele murmurou, percebendo minha tristeza. “E até 
admito que posso estar sendo um pouco egoísta. Não quero perder uma ótima assistente só porque ela não quer mais trabalhar no mesmo prédio que o ex.” 
 “Mark, fico feliz com sua preocupação e de saber que estou sendo valorizada aqui.Mas você não precisa se preocupar comigo. Eu já sou crescidinha. Além disso, não existe 
nada capaz de me fazer querer sair daqui.” 
 Ele soltou um suspiro de alívio. “Muito bem. Vamos deixar esse assunto de lado e 
começar a trabalhar.” 
 Foi o que fizemos, mas eu me preparei para mais sessões de tortura criando um 
alerta diário do Google para buscas com o nome de Joseph. Quando chegaram as cinco 
horas, minhas preocupações se projetavam sobre minha felicidade como uma sombra 
sinistra.
 Joseph estava a postos, conforme tinha avisado, e não pareceu notar minha 
disposição mais introspectiva enquanto descíamos no elevador. Mais de uma mulher ali 
dentro lançou olhares furtivos na direção dele, mas esse tipo de coisa não meincomodava. 
Ele era lindo, seria estranho se ninguém olhasse. 
 Ele pegou minha mão quando passamos pelas catracas, entrelaçando seus dedos nos 
meus. Esse simples gesto de intimidade significou tanta coisa para mim que apertei ainda 
mais sua mão. Era o tipo de coisa com a qual eu teria de tomar cuidado. O momento em 
que eu me sentisse agradecida porque ele dedicava seu tempo a mim seria o princípio do 
fim. Até eu perderia o respeito por mim se isso acontecesse. 
 O Bentley estava parado no meio-fio, com o motorista a postos na porta traseira. 
Joseph olhou para mim. “Tenho umas roupas aqui comigo, caso você queira ir à sua 
academia. Equinox, certo? Ou podemos ir à minha.” 
 “Onde fica a sua?” 
 “A minha preferida é a JonasTrainer, na rua 55.” 
 Minha curiosidade sobre como ele tinha descoberto o nome da minha academia se 
foi quando ouvi a palavra “Jonas” no nome da dele. “Por acaso você é o dono dessa 
academia?” 
 Ele abriu um sorriso. “Dessa rede de academias. Em geral eu treino MMA com um 
treinador particular, mas uso a academia de vez em quando.” 
 “Da rede”, repeti. “Claro.” 
 “Você que sabe”, ele falou, com a maior boa vontade. “Vou aonde você quiser.” 
 “Vamos pra sua academia, literalmente.” 
 Ele abriu a porta traseira e eu entrei. Pus a bolsa e a mochila da academia no colo e 
olhei pela janela enquanto o carro começava a andar. O sedã ao lado estava tão próximo 
que quase não era preciso que eu me curvasse para tocá-lo. O horário de pico em 
Manhattan era algo a que eu não havia me acostumado. No sul da Califórnia também tinha 
trânsito, mas os carros conseguiam andar devagar. Em Nova York, a velocidade e o 
congestionamento se alternavam com tanta frequência que eu me via obrigada a fechar os 
olhos e rezar para sobreviver. 
 Era outro mundo. Uma cidade nova, um apartamento novo, um emprego novo e um 
homem novo. Coisa demais para digerir de uma vez só. Não era à toa que eu estava me 
sentindo tão perdida. 
 Olhei para Joseph e o surpreendi me olhando com uma expressão indecifrável. Dentro de mim, tudo girava em uma confusão de luxúria e ansiedade. Não tinha a menor ideia do que estava fazendo com ele, só sabia que não era capaz de parar, nem mesmo se quisesse. 
Fomos à loja de celulares primeiro.
 A vendedora que nos atendeu parecia especialmente suscetível aos atrativos de Joseph. Assim que ele demonstrou o mínimo interesse em um produto, ela já se abriu toda, alongando-se em explicações detalhadas e se aproximando o máximo possível na hora de fazer as demonstrações.  Tentei ficar longe dos dois e encontrar alguém disposto a me ajudar, mas a mão de Joseph, sempre colada à minha, impedia que eu me afastasse. Depois houve a discussão de quem ia pagar, apesar de o telefone e a conta serem meus. 
 “Você já escolheu a operadora”, argumentei, empurrando seu cartão de crédito para 
o lado e estendendo o meu para a vendedora. 
 “Porque é mais prático. Se formos da mesma operadora, podemos nos ligar de 
graça.” Ele trocou os cartões em um movimento habilidoso. 
 “Se você não guardar esse cartão, não vou nem querer ligar pra você!” 
 Isso pareceu convencê-lo, apesar de Joseph não ter ficado muito satisfeito. Ele que 
engolisse essa. 
 De volta ao Bentley, seu bom humor voltou. 
 “Pode ir para a academia agora, Angus”, ele ordenou ao motorista, recostando-se no 
assento. Depois tirou o celular do bolso e adicionou meu número à sua agenda. Em seguida, adicionou seu celular no meu, acrescentando o número de casa e do escritório. 
 Ele mal havia terminado quando chegamos à JonasTrainer, uma academia de três 
andares que era o sonho de qualquer entusiasta da boa forma. Fiquei impressionada com 
cada canto de sua estrutura bonita, moderna e bem equipada. Até mesmo o armário do 
vestiário feminino parecia algo saído de um filme de ficção científica. 
 Mas meu encantamento foi eclipsado pelo próprio Joseph quando acabei de me 
trocar e o encontrei esperando por mim no corredor. Ele estava de bermuda e regata, o que me proporcionou a primeira oportunidade de ver suas pernas e seus braços. 
 Parei de repente, e a pessoa que vinha atrás esbarrou em mim. Só esbocei um 
pedido de desculpas — estava ocupada demais devorando o corpo de Joseph com os olhos. Suas pernas eram fortes e torneadas, impecavelmente proporcionais a seus quadris e sua cintura bem delineada. Já os braços me deram água na boca. Os bíceps eram muito bem pronunciados, e os antebraços ostentavam veias grossas, criando um apelo visual brutal e totalmente sexy. Ele tinha penteado o cabelo para trás, permitindo que eu visse o contorno de seu pescoço e os caminhos angulosos de seu rosto. 
 Minha nossa. Eu queria conhecer intimamente esse homem. Minha mente não conseguia se ocupar de outra coisa, pelo menos enquanto estivesse diante da prova irrefutável de sua beleza incomparável.  E ele estava olhando feio para mim.  Desencostando da parede à qual estava apoiado, ele se aproximou e me rodeou. Seus dedos percorreram meu abdome despido enquanto contornava a distância ao meu redor, deixando minha pele toda arrepiada. Quando ele parou diante de mim, lancei meus braços em torno de seu pescoço e dei um beijinho estalado na sua boca. 
 “O que é isso que você está usando?”, ele perguntou, não muito feliz com minha  recepção entusiasmada. 
 “Roupas.” 
 “Parece que você está nua com esse top.” 
 “Pensei que você quisesse me ver nua.” Fiquei feliz com minha escolha de vestuário, que havia sido feita de manhã, antes de saber que ia malhar com ele. O top tinha tiras presas com velcro nos ombros e nas costelas, que podiam ser ajustadas de forma a proporcionar o melhor suporte para os seios. Era especialmente projetado para mulheres de curvas avantajadas, e era o primeiro que eu usava capaz de impedir que meus seios ficassem balançando o tempo todo durante a ginástica. Joseph não tinha gostado, na verdade, era da cor, muito próxima do tom da minha pele, que combinava com as listras da 
minha calça preta de ioga. 
 “Quero ver você nua num local com privacidade”, ele murmurou. “Agora vou ter 
que acompanhar você toda vez que for à academia.” 
 “Não vou reclamar, já que estou gostando demais do que estou vendo agora.” Além 
disso, eu preferia aquela possessividade à frieza do sábado à noite. Duas demonstrações 
diametralmente opostas — foi a primeira vez, mas eu tinha certeza de que não seria a 
última. 
 “Vamos deixar isso pra lá.” Ele pegou minha mão e me levou dali, apanhando de 
uma pilha duas toalhas com a logomarca da academia. “Eu preciso te comer.” 
 “Eu preciso ser comida.” 
 “Meu Deus, Demetria.” Ele apertou tanto minha mão que até doeu. “O que vai ser? 
Pesos? Aparelhos? Esteira?” 
 “Esteira. Preciso correr um pouco.” 
 Ele me levou até lá. Vi as mulheres do local o seguirem com os olhos, depois com 
os pés. Elas queriam estar onde ele estava, e eu era capaz de entender isso. Também estava ansiosa para vê-lo malhar. 
 Quando chegamos às fileiras intermináveis de esteiras e bicicletas, constatamos que 
não havia duas esteiras adjacentes que estivessem livres. 
 Joseph foi até um homem que tinha uma esteira livre de cada lado. “Você me faria 
um grande favor se usasse uma dessas outras.” 
 O homem olhou para mim e sorriu. “Claro, sem problemas.” 
 “Legal. Eu agradeço.” 
 Joseph subiu na esteira em que estava o homem e me apontou a que havia ao lado. 
Antes que ele programasse seu exercício, eu me curvei em sua direção. “Vê se não gasta 
muita energia”, sussurrei. “Quero fazer um papai-e-mamãe pra começar. Andei fantasiando com você em cima de mim, mandando ver com toda a força.” 
 Seu olhar me fuzilou. “Demetria, você não faz ideia.” 
 Quase morrendo de ansiedade e sentindo uma agradável onda de energia feminina, 
subi na minha esteira e comecei com uma caminhada leve. Enquanto me aquecia, pus meu iPod no modo aleatório e, quando começou a tocar “SexyBack”, de Justin Timberlake, passei a correr a toda a velocidade. A corrida para mim era um exercício físico e mental. 
Bem que eu gostaria de ser capaz de resolver todos os meus problemas correndo.  Depois de vinte minutos diminuí o ritmo e parei, arriscando uma olhada para Joseph, que corria com a fluidez de uma máquina bem azeitada. Ele estava vendo a CNN nos monitores de TV acima de sua cabeça, mas abriu um sorriso para mim enquanto eu enxugava o suor do rosto. Quase esvaziei minha garrafa d’água a caminho dos aparelhos, e escolhi um de onde pudesse mantê-lo no meu campo de visão. 
 Ele fez meia hora de esteira, depois passou para os pesos, sempre com os olhos 
procurando por mim. Enquanto se exercitava, de maneira eficiente e incansável, eu não 
conseguia deixar de pensar no quanto aquele homem era viril. O fato de eu saber o que 
estava escondido sob aquela bermuda ajudava a criar essa impressão, mas, mesmo que não soubesse, ele tinha toda a aparência de uma pessoa que, apesar de trabalhar atrás de uma mesa, mantinha seu corpo pronto para a guerra. 
Quando peguei uma bola para fazer uma sessão de agachamentos, um dos 
instrutores veio até mim. Como era de esperar em uma academia de primeiríssima classe, 
ele era bonito e tinha um corpo muito bem trabalhado. 
 “Olá”, o instrutor disse, com um sorriso de astro de cinema que revelava dentes 
brancos e perfeitos. Seus cabelos eram castanhos e os olhos, quase da mesma cor. “É sua 
primeira vez, né? Nunca vi você aqui antes.” 
 “Sim, é a primeira vez que venho.” 
 “Meu nome é Daniel.” Ele estendeu a mão, e eu disse meu nome. “Está encontrando 
tudo de que precisa, Demetria?” 
 “Por enquanto está tudo bem, obrigada.” 
 “De que sabor de vitamina você gosta?” 

 Franzi a testa. “Como é?”
“Sua vitamina grátis de boas-vindas.” Ele cruzou os braços, e seus bíceps alargaram 
as mangas apertadas da camiseta polo do uniforme. “Você não ganhou uma na lanchonete 
lá embaixo quando fez a matrícula? Eles deveriam ter oferecido.” 
 “Ah, tá.” Encolhi os ombros, apesar de ter gostado da oferta. “Não cheguei até aqui 
pelas vias normais.” 
 “Ninguém mostrou a academia pra você? Eu posso fazer isso.” Ele pegou de leve no 
meu ombro e mostrou as escadas. “Você também ganha uma hora grátis com um personal 
trainer. Podemos fazer isso hoje mesmo, ou então marcar para um dia desta semana. E eu 
ficaria feliz em acompanhar você até a lanchonete, pra não ficar sem sua vitamina.” 
 “Ah, eu não posso, na verdade.” Franzi o rosto. “Não estou matriculada.” 
 “Ah.” Ele piscou para mim. “Você só veio conhecer? Tudo bem. Mas você só vai poder se decidir se puder aproveitar tudo o que temos a oferecer. Eu garanto para você, a 
JonasTrainer é a melhor academia de Manhattan.” 
 Joseph apareceu por sobre os ombros de Daniel. “Você tem direito a tudo o que 
temos a oferecer”, ele falou enquanto se dirigia para o meu lado e passava o braço pela 
minha cintura, “já que é a namorada do dono.” 
 A palavra namorada reverberou pelo meu corpo, inundando meu organismo com uma onda de adrenalina. Eu ainda estava em dúvida se tínhamos mesmo esse nível de comprometimento, mas isso não me impediu de gostar da ideia. 
 “Senhor Jonas.” Daniel corrigiu a postura e deu um passo atrás antes de estender a 
mão. “É uma honra conhecer o senhor.” 
 “Daniel ia me mostrar a academia”, eu disse para Joseph enquanto os dois se 
cumprimentavam. 
 “Acho que a melhor pessoa para fazer isso sou eu.” Seus cabelos estavam úmidos 
de suor, e o cheiro dele era delicioso. Nunca pensei que um homem suado pudesse cheirar tão bem. 
 Ele me pegou pelo braço e senti o toque de seus lábios no topo da minha cabeça. 
“Vamos lá. Até mais, Daniel.” 
 Eu me despedi com um aceno enquanto nos afastávamos. “Obrigada, Daniel.” 
 “Quando quiser.” 
 “Sou capaz de apostar”, murmurou Joseph, “que ele não tirou os olhos dos seus 
peitos.” 
 “Eles são muito bonitos.” 
 Ele soltou um grunhido grave. Precisei esconder minha satisfação. Joseph bateu na minha bunda com força suficiente para me fazer descer um degrau e deixar uma marca vermelha e dolorida, apesar de eu estar de calça.
“Esse maldito band-aid que você chama de top não deixa muito espaço para a imaginação. Não demore muito no chuveiro. Logo você vai ficar toda suada de novo.”
“Espere.” Segurei seu braço antes que ele passasse pelo vestiário feminino a 
caminho do masculino. “Você acharia ruim se eu pedisse para você não tomar banho? Se eu dissesse que quero encontrar um lugar aqui pertinho e pular em cima de você todo suado mesmo?”
Joseph cerrou os dentes e seus olhos se tornaram perigosamente sombrios. “Estou 
começando a temer pela sua segurança, Demetria. Pegue suas coisas. Tem um hotel ali na 

esquina.”



terça-feira, 10 de junho de 2014

Capítulo 13

Hesitei; depois me recuperei e fui na direção da pia para 
lavar as mãos. 
 Ela se virou para o espelho, observando-me. Eu também a observei. Era ainda mais 
bonita pessoalmente do que nas fotos. Alta e magra, com grandes olhos escuros e cabelos 
castanhos lisos. Seus lábios eram carnudos e vermelhos, e os ossos de sua face eram 
pronunciados e harmônicos. Seu vestido era sexy e modesto, uma leve camada de cetim cor de creme que contrastava lindamente com sua pele morena. Ela parecia uma supermodelo e exalava sex appeal por todos os poros. 
 A funcionária do banheiro me entregou a toalha de mão, e Magdalene falou com ela 
em espanhol, pedindo para nos deixar sozinhas. Reforcei o pedido: “Por favor, gracias”. 
Magdalene arqueou as sobrancelhas e me olhou mais atentamente, um olhar que retribuí 
com igual frieza. 
 “Ah, não”, ela murmurou assim que a funcionária se afastou. Fez também um estalo 
com a língua, um barulho que me irritava tanto quanto o som de unhas numa lousa. “Você 
já deu pra ele.” 
 “E você não.” 
 Isso pareceu surpreendê-la. “É verdade, eu não. Sabe por quê?” 
 Tirei uma nota de cinco da bolsa e depositei na bandeja de gorjetas. “Porque ele não 
quer.” 
 “E eu também não quero, porque ele não consegue assumir um compromisso. Ele é 
jovem, bonito, rico e está aproveitando a vida.” 
 “Ah, sim.” Concordei. “Com toda a certeza.” 
 Ela estreitou os olhos, e a expressão de contentamento sumiu do seu rosto. “Ele não 
respeita as mulheres que come. Depois que enfia o pau em você, acabou a conversa. É 
assim com todas. Mas eu ainda estou aqui, porque é a mim que ele quer no futuro.” 
 Mantive a frieza, apesar de ter acusado o golpe, que me acertou justamente onde 
mais me doía. “Isso é patético.” 
 Saí pisando duro e só parei ao chegar à limusine de Stanton. Apertei a mão de Cary 
ao entrar, e consegui esperar o carro virar a esquina para começar a chorar. 
  “Oi, gata”, cumprimentou Cary quando saí do quarto na manhã seguinte. Vestido 
apenas com uma calça velha, ele estava deitado no sofá com os pés cruzados em cima da 
mesa de centro. Estava lindo, todo largado, despreocupado com a própria aparência e 
confortável. “Dormiu bem?” 
 Fiz sinal de positivo com o dedo e fui pegar um café na cozinha. Parei no meio do 
caminho, com uma expressão de surpresa diante do enorme buquê de rosas vermelhas no 
balcão. O aroma era divino, e respirei bem fundo para senti-lo. “O que é isso?” 
 “Chegou faz mais ou menos uma hora. Entrega dominical. Uma beleza, mas não sai 
nada barato.” 
 Desgrudei o cartão do papel celofane e o abri. 

AINDA ESTOU PENSANDO EM VOCÊ. 
  JOSEPH 
  
 “Foi Jonas que mandou?”, Cary perguntou. 
 “Foi.” Passei o dedão por cima do que imaginei ser sua caligrafia. Era sexy e 
masculina. Um gesto romântico de um cara que não tinha o romance em seu repertório. 
Larguei o cartão no balcão como se estivesse queimando meus dedos e enchi uma caneca 
de café, rezando para que a cafeína me desse forças e restaurasse meu bom senso. 
 “Pelo jeito você não gostou muito.” Ele baixou o volume do jogo de beisebol a que 
estava assistindo. 
 “Ele não faz bem pra mim. É um gatilho pra coisas não muito agradáveis. Preciso ficar longe dele.” Cary havia feito terapia comigo, então sabia do que eu estava falando. 
Não estranhou quando apelei para o jargão da psicanálise e não se furtou a responder na 
mesma moeda. 
 “O telefone ficou tocando a manhã toda. Eu não queria causar nenhuma perturbação, por isso deixei no silencioso.” 
 Sentindo um formigamento entre as pernas, eu me aninhei no sofá e lutei contra a 
vontade de ver se Joseph havia deixado alguma mensagem. Queria ouvir a voz dele, e 
alguma explicação para o que tinha acontecido na noite anterior. “Boa ideia. Pode deixar 
assim mesmo o resto do dia.” 
 “O que aconteceu?” 
 Soprei a fumaça do meu café e tentei dar um gole. “Fiz com que ele perdesse a cabeça na limusine e depois disso ele se fechou como uma porta.” 
 Cary me olhava com seus olhos verdes e expressivos, que já haviam visto muito mais do que deveriam. “Você abalou as estruturas dele, então?” 
 “Pois é.” Fiquei irritada só de pensar. A gente tinha se dado bem. Eu tinha certeza. 
Eu o queria mais do que tudo na noite anterior, e agora nunca mais queria vê-lo. “Foi 
intenso. O melhor sexo da minha vida, e ele estava totalmente na minha. Dava pra ver. Era a primeira vez dele num carro, e ele pareceu meio reticente no começo, mas depois ficou com tanto tesão que não conseguiu mais resistir.”
 “Sério mesmo?” Ele passou a mão na barba por fazer. “A maioria dos caras risca 
isso da lista antes de entrar na faculdade. Na verdade, não conheço ninguém que nunca 
tenho feito isso, a não ser os nerds e os feiosos, e ele não é uma coisa nem outra.” 
 Dei de ombros. “Acho que ele me considera uma piranha depois dessa.” 
 Cary ficou imóvel. “Foi isso que ele disse?” 
 “Não. Ele não disse porra nenhuma. Quem falou isso foi a ‘amiguinha’ dele, Magdalene. Aquela morena das fotos da internet, lembra? Ela decidiu pôr as asinhas de fora e foi atrás de mim no banheiro.” 
 “A vaca está com ciúmes.” 
 “Puro recalque. Ela não consegue dar pra ele, porque ao que parece ele descarta todas as mulheres com quem trepa.” 
 “Ele disse isso?” Mais uma vez, a pergunta saiu carregada de raiva. 
 “Não com essas palavras. Só disse que não dormia com as amigas dele. Ele não consegue suportar a ideia de que as mulheres queiram outras coisas além de ir pra cama, então faz uma separação entre as mulheres com quem trepa e as mulheres com quem conversa.” Dei mais um gole no café. “Avisei que comigo isso não ia funcionar, e ele disse que daria um jeito, mas acho que era só uma forma de conseguir o que queria.” 
 “Ou então você assustou o sujeito.” 
 Olhei fixamente para ele. “Nem tente arrumar desculpas pro cara. De que lado você 
está, afinal?” 
 “Do seu, gata.” Ele se inclinou e deu um tapinha no meu joelho. “Sempre do seu.” 
 Agarrei seu antebraço musculoso a deslizei suavemente os dedos por ele em sinal de 
gratidão. Não consegui sentir as inúmeras cicatrizes de cortes que ele tinha nos pulsos, mas nunca esqueci onde ficavam. Eu agradecia todos os dias por ele estar vivo, com saúde e ser tão importante para mim. “Como é que foi sua noite?” 
 “Não posso reclamar.” Seus olhos ganharam um brilho de malícia. “Peguei aquela 
loira peituda na salinha da limpeza. Os peitos dela eram de verdade.” 
 “Olha só.” Eu sorri. “Ela teve uma noite inesquecível, pode ter certeza.” 
 “Pelo menos eu tentei.” Ele pegou o telefone e piscou para mim. “O que você quer comer? Sanduíche? Comida chinesa? Indiana?” 
 “Não estou com fome.” 
 “Você está sempre com fome. Se não escolher nada, vou cozinhar e você vai ter que 
comer o que estiver na panela.” 
 Levantei as mãos em sinal de rendição. “Tudo bem, tudo bem. Você escolhe.” 
Cheguei ao trabalho vinte minutos adiantada na segunda, em uma tentativa de escapar de Joseph. Consegui ir até minha mesa sem nenhum incidente e me senti tão aliviada que percebi que ele era um assunto muito mais sério para mim do que poderia imaginar. Meu humor era instável e flutuante. 
 Mark chegou todo animado, ainda motivado pelo sucesso da semana anterior, e 
partimos logo para o trabalho. Eu tinha feito uma pesquisa sobre marcas de vodca no 
domingo, e ele foi gentil o bastante para repassá-la comigo e ouvir o que eu achava. Mark 
também era responsável pela conta de um novo fabricante de leitores eletrônicos, então 
demos o pontapé inicial nessa campanha também. 
 Com uma manhã tão ocupada, o tempo passou voando, e eu não tive tempo de 
pensar na minha vida pessoal. Fiquei muito feliz por isso. Mas então o telefone tocou, e 
ouvi a voz de Joseph do outro lado da linha. Não estava preparada para isso. 
 “Como está a sua segunda?”, ele perguntou, e sua voz me deixou toda arrepiada. 
 “Ocupadíssima.” Olhei para o relógio e me assustei ao constatar que faltavam só 
vinte minutos para o meio-dia.
 “Ótimo.” Ele fez uma pausa. “Tentei ligar pra você ontem. Deixei umas mensagens. 
Queria ouvir sua voz.” 
 Fechei os olhos e respirei fundo. Precisei recorrer a toda a força de vontade que 
tinha para resistir à tentação de ouvir as mensagens dele. Até Cary se envolveu na causa — eu disse a ele para me segurar caso a tentação falasse mais alto. “Queria ficar sozinha, e aproveitei para trabalhar um pouco.” 
 “Recebeu as flores que mandei?” 
 “Sim, são lindas. Obrigada.” 
 “Elas me lembraram do seu vestido.” 
 O que ele estava fazendo? Eu estava começando a pensar que ele sofria de algum 
distúrbio de múltiplas personalidades. “Algumas mulheres diriam que você está sendo romântico.” 
 “Só me importa o que você diz.” A cadeira rangeu quando ele se levantou. “Pensei 
em passar na sua casa... Senti vontade.” 
 Suspirei, já desistindo de tentar entender. “Ainda bem que você não fez isso.” 
 Ele fez outra longa pausa. “Eu mereci essa.” 
 “Não falei isso pra castigar você. É a verdade.” 
 “Eu sei. Olha... Eu providenciei um almoço aqui no escritório, pra gente não perder 
tempo com deslocamentos.” 
 Depois que nos despedimos no evento, fiquei pensando se ele queria mesmo me  encontrar depois de se recuperar de sabe-se lá que processo desencadeado pela nossa 
relação. Era uma possibilidade que eu vinha remoendo desde sábado à noite, ciente de que precisava afastá-lo de mim, mas ao mesmo tempo torturada pelo desejo de estar com ele. 
Queria sentir de novo aquele momento puro e perfeito de intimidade que compartilhamos.  Mas aquele único momento não justificava todos os outros em que ele fez com que eu me sentisse um lixo. 
 “Joseph, não temos por que almoçar juntos. Acabamos confundindo as coisas na 
sexta à noite e... bom, o assunto foi resolvido no sábado. É melhor deixar tudo como está.” 
 “Demi.” Ele baixou o tom de voz. “Eu sei que estraguei tudo. Me deixe explicar.” 
 “Não precisa. Está tudo bem.” 
 “Não está, não. Preciso ver você.” 
 “Eu não quero...”
“Podemos fazer isso do jeito mais fácil, Demi, ou então dificultar as coisas.” Sua voz 
endureceu e meu coração disparou. “De qualquer forma, você vai me ouvir.” 
 Fechei os olhos e aceitei o fato de que não ia me livrar tão facilmente, com uma 
simples conversa ao telefone. “Tudo bem. Eu subo aí.” 
 “Obrigado.” Ele soltou um suspiro bem audível. “Mal posso esperar pra ver você.” 
 Pus o telefone no gancho e fiquei olhando para as fotos na minha mesa, tentando 
elaborar o que precisava dizer e me preparando para o impacto de rever Joseph. A 
ferocidade da minha reação física à presença dele era impossível de controlar. De alguma 
forma, eu precisava acabar logo com aquilo e seguir em frente. Mais tarde eu pensaria em 
como lidar com o fato de ter que cruzar com ele no prédio ao longo dos dias, meses e anos seguintes. Por ora, eu só precisava pensar em como sobreviver à hora do almoço. 
 Optando por ceder ao inevitável, voltei para o trabalho comparando o impacto visual de algumas amostras de folhetos a serem encartados em jornais e revistas. 
 “Demetria.”
Dei um pulo na cadeira ao perceber que Joseph estava na minha baia. Fiquei 
desconcertada ao vê-lo, como sempre, e meu coração quase explodiu dentro do peito. Uma olhada rápida no relógio revelou que quinze minutos haviam se passado num piscar de 
olhos. 
 “Jos... Senhor Jonas. Não precisava ter descido até aqui.” 
 Seu rosto parecia calmo e impassível, mas seus olhos fervilhavam. “Está pronta?” 
 Abri a gaveta e peguei minha bolsa, aproveitando a oportunidade para respirar bem 
fundo. O cheiro dele era fenomenal. 
 “Senhor Jonas.” Era a voz de Mark. “Que bom vê-lo aqui. Posso ser útil em...?” 
 “Estou aqui por causa de Demetria. Vamos almoçar juntos.” 
 Fiquei de pé a tempo de ver a expressão de surpresa no rosto de Mark. Ele logo se 
recompôs, e seu rosto retomou a beleza e a simpatia que lhe eram naturais. 
“Volto à uma hora”, garanti. 
 “Até lá, então. Bom almoço.” 
 Joseph pôs a mão na parte inferior das minhas costas e me guiou até os elevadores, 
fazendo com que Megumi erguesse as sobrancelhas de espanto quando passamos pela 
recepção. Continuei inquieta enquanto esperávamos o elevador, desejando que fosse 
possível passar um dia sem ver aquele homem cujo toque despertava meu desejo como uma droga. 
 Ele se virou para mim enquanto o elevador não chegava e percorreu com os dedos 
as mangas da minha blusa de cetim. “Toda vez que fecho os olhos, vejo você com aquele 
vestido vermelho. Escuto seus gemidos de tesão. Sinto você descendo pelo meu pau, 
apertadinha, me fazendo ficar tão duro que chega até a doer.” 
 “Pare com isso.” Virei o rosto para o outro lado, incapaz de suportar o olhar de 
intimidade que ele lançava em minha direção. 
 “Não consigo evitar.” 
 A chegada do elevador foi um alívio. Ele me pegou pela mão quando entramos. 
Depois de pôr a chave no painel, ele me puxou mais para perto. “Eu vou te beijar, Demetria.” 
 “Eu não...” 
 Ele calou a minha boca com a dele. Resisti o quanto pude, mas no fim acabei me 
desmanchando ao sentir sua língua acariciando lentamente a minha. Eu queria esse beijo 
desde o momento em que transamos. Precisava de uma garantia de que ele dava valor ao 
que tínhamos vivenciado, que aquilo significava para ele o mesmo que para mim. 
 A sensação de abandono voltou quando ele se afastou. 
 “Vamos lá.” Joseph tirou a chave do painel e a porta se abriu. 
A recepcionista ruiva não disse nada dessa vez, apesar de ter me olhado de um jeito 
estranho. Já o secretário, Scott, levantou-se quando chegamos e me cumprimentou 
simpaticamente pelo nome. 
 “Boa tarde, senhorita Lovato.” 
 “Oi, Scott.” 
 Joseph se limitou a um leve aceno de cabeça. “Não passe nenhuma ligação.” 
 “É claro.” 
 Entrei no escritório luxuoso de Joseph e já procurei com os olhos o sofá onde tinha 
acontecido nosso primeiro contato mais íntimo. 
 O almoço estava servido no bar — dois pratos cobertos com tampas de metal. 
 “Quer que eu guarde sua bolsa?” 
 Olhei para ele e percebi que havia tirado o paletó e que o mantinha pendurado no 
braço. Estava ali parado, com sua calça e seu colete feitos sob medida, uma camisa e uma 
gravata impecavelmente brancas, seus grossos cabelos negros ao redor do rosto de tirar o 
fôlego, seus olhos de um azul selvagem e deslumbrante. Em resumo, ele me fascinava. Eu 
não conseguia acreditar que tinha transado com um homem tão lindo. 
 Foi quando lembrei que aquilo não havia significado nada para ele. 
 “Demi?” 
“Você é muito bonito, Joseph.” As palavras saíram da minha boca sem que eu me 
desse conta. 
 Ele pareceu surpreso, e amenizou um pouco a intensidade de seu olhar. “Fico feliz 
que goste do que vê.” 
 Entreguei minha bolsa a ele e me afastei. Precisava manter distância. Ele pendurou 
o paletó e a bolsa no cabide e se dirigiu ao bar. 
Cruzei os braços. “Vamos acabar logo com isso. Não quero mais sair com você.” 
Joseph passou a mão pelos cabelos e bufou. “Não acho que você queira isso.” 
 De repente eu me senti cansada, exaurida de tanto lutar contra mim mesma por 
causa dele. “Quero, sim, de verdade. Foi... um erro.” 
 Ele cerrou os dentes. “Não foi. A maneira como me comportei depois é que foi um 
erro.” 
 Olhei bem para ele, surpresa com sua capacidade feroz de negação. “Eu não estava 
falando de sexo, Joseph. Estava me referindo ao fato de concordar com o tipo de relação 
que se estabeleceu entre nós. Estava na cara que ia dar errado desde o começo. Eu deveria ter seguido meus instintos.” 
 “Você não me quer mais?”
“Não é isso. É que...” 
 “Não como eu disse no bar. De verdade.” 
 Meu coração disparou. “Do que você está falando?” 
 “De tudo.” Ele chegou mais perto. “Eu quero ser seu.” 
 “Não foi isso que pareceu no sábado.” Apertei ainda mais os braços. 
 “Eu estava... inseguro.” 
 “E daí? Eu também.” 
 Ele pôs as mãos na cintura. Depois cruzou os braços como eu. “Por favor, Demi.” 
 Vi que ele estava remoendo alguma coisa e senti um fio de esperança. “Se é isso 
que você tem a dizer, estamos conversados.” 
“Não estamos, não.” 
 “Se você vai entrar em parafuso toda vez que a gente transar, não temos nem por 
que começar.” 
 Ele estava visivelmente escolhendo as palavras. “Estou acostumado a ficar no controle. Eu preciso disso. E você mandou essa ideia para o espaço na limusine. Eu não soube como lidar com isso.” 
 “Jura?” 
 “Demetria.” Ele chegou mais perto. “Nunca fiz isso antes. Pensei que nem fosse capaz. 
Agora que aconteceu... não posso abrir mão. Não posso abrir mão de você.” 
 “É muito simples, Joseph. Por mais que o sexo seja bom, uma relação puramente 
sexual pode mexer seriamente com sua cabeça se o convívio com a outra pessoa não fizer 
bem pra você.” 
 “Nada disso. Admito que pisei na bola. Não posso mudar o que aconteceu, mas tenho o direito de ficar puto se você não quiser mais sair comigo por causa disso. Você impôs as regras e eu concordei, mas você não abriu mão de nada pra se adaptar a mim. Precisamos encontrar um meio-termo.” Seu rosto estava carregado de frustração. “Você precisa ceder pelo menos um pouco.”
Olhei bem pra ele, tentando entender o que estava acontecendo e aonde aquilo ia 
chegar. “O que você quer, Joseph?”, perguntei calmamente. 
 Ele me abraçou e segurou meu queixo com uma das mãos. “Quero continuar me sentindo como me sinto quando estou com você. Só me diga o que preciso fazer. E não secomporte assim quando eu fizer bobagem. É tudo novidade pra mim. Um aprendizado.” 
 Pus a minha mão sobre seu coração e senti que estava disparado. Ele parecia ansioso e apaixonado, e isso me levou ao limite. O que eu deveria responder? Deveria seguir meus instintos ou usar o bom senso? “O que exatamente é uma novidade pra você?” 
 “O que for preciso pra passar o maior tempo possível com você. Na cama e fora 
dela.” 






segunda-feira, 9 de junho de 2014

Capítulo 12

Não me lembro bem do que aconteceu depois que chegamos. Os flashes dos 
fotógrafos espocaram ao nosso redor enquanto andávamos pela área de imprensa, mas eu 
mal me dei conta disso, estava sorrindo apenas por inércia. Na verdade, estava retraída e 
ansiosa para me livrar da tensão que Joseph exalava na minha direção. 
 No momento em que entramos, alguém chamou seu nome e ele se virou. Saí de 
fininho, olhando ao redor, para os outros convidados, que lotavam a entrada acarpetada do evento. 
 Quando cheguei à recepção, apanhei duas taças de champanhe da bandeja de um 
garçom que passava e virei uma delas enquanto procurava por Cary. Quando o vi do outro 
lado do salão junto com minha mãe e Stanton, fui direto até lá, descartando a taça vazia 
sobre uma mesa no caminho. 
 “Demetria!” A expressão da minha mãe se iluminou ao me ver. “Esse vestido ficou 
maravilhoso em você!” 
 Ela me cumprimentou beijando minhas bochechas sem tocá-las. Estava linda em um 
vestido longo e justo, azul e brilhante. Suas orelhas, seus pulsos e sua garganta estavam 
adornados de safiras, ressaltando a cor de seus olhos e o tom de sua pele. 
 “Obrigada.” Dei um gole na segunda taça de champanhe, lembrando que havia 
planejado expressar minha gratidão pelo vestido. Enquanto agradecia pelo presente, não 
estava mais tão contente com sua conveniente abertura na perna.  Cary tomou a frente, pegando-me pelo cotovelo. Só de olhar para meu rosto ele percebeu que eu estava chateada. Balancei a cabeça, mostrando que não queria falar sobre o assunto naquele momento. 
 “Mais champanhe, então?”, ele perguntou, gentil. 
 “Por favor.” 
Senti que Joseph se aproximava antes mesmo de ver o rosto de minha mãe se iluminar como a Times Square em noite de Ano-Novo. Stanton também pareceu se ajeitar e 
se empertigar todo. 
 “Demetria.” Joseph apoiou a mão na parte inferior de minhas costas nuas, e uma onda de 
choque percorreu meu corpo. Com seus dedos grudados em mim, perguntei-me se ele 
sentia a mesma coisa. “Você fugiu.” 
 Fiquei gelada com o tom de reprovação que ouvi em sua voz. Eu o fuzilei com um 
olhar que dizia tudo aquilo que eu não podia falar em público. “Richard, você conhece 
Joseph Jonas?” 
 “Sim, é claro.” Os dois se cumprimentaram. 
 Joseph me puxou mais para perto. “Temos a sorte de acompanhar as duas mulheres 
mais bonitas de Nova York.”  Stanton concordou, abrindo um sorriso para minha mãe. 
 Virei o restante do meu champanhe e troquei com gratidão a taça vazia pela que 
Cary havia me trazido. O álcool produzia uma leve queimação no meu estômago, e ajudava a desatar um pouco o nó que havia se formado lá dentro. 
 Joseph se inclinou na minha direção e cochichou em um tom áspero: “Não se esqueça de que você está comigo”. 
 O cara era maluco? Que conversa era aquela? Meus olhos se estreitaram de raiva. 
“Olha só quem fala.” 
 “Aqui não, Demetria.” Ele acenou com a cabeça para todos e me levou dali. “Agora não.” 
 “Nem nunca”, murmurei, concordando em ir com ele só para poupar minha mãe daquela cena. 
Virando taças de champanhe, eu me coloquei no piloto automático e passei a agir 
num modo de autopreservação ao qual não recorria havia muitos anos. Joseph me 
apresentou a algumas pessoas, e acho que minha atuação foi boa — falando nos momentos 
certos e sorrindo quando necessário —, mas não estava prestando a mínima atenção. Eu 
estava mais preocupada com a parede de gelo que se ergueu entre nós, com minha raiva e minha mágoa. Caso eu ainda precisasse de alguma prova da determinação de Joseph em 
evitar interações sociais com as mulheres com quem dormia, tinha acabado de obtê-la. 
 Quando o jantar foi anunciado, fui com ele para a mesa e mal toquei na comida. 
Bebi algumas taças de vinho tinto que serviram junto com a refeição e ouvi Joseph 
conversar com as demais pessoas à mesa. Não prestei a menor atenção às palavras, apenas à cadência e o tom sedutor e equilibrado da sua voz. Felizmente, ele não tentou me integrar à conversa. Acho que eu não diria nada que prestasse.
 Só voltei a demonstrar interesse quando, em meio a uma salva de palmas, ele subiu 
até o palco. Eu me virei na cadeira e o observei enquanto caminhava em direção ao púlpito, incapaz de deixar de admirar sua elegância natural e sua beleza impressionante. A cada passo que dava ele impunha atenção e respeito, o que era uma proeza, considerando suas passadas tranquilas e sem pressa. 
 Joseph não lembrava nem um pouco aquele sujeito vulnerável depois da nossa foda 
desmedida na limusine. Na verdade, parecia outra pessoa. Ele havia voltado a ser o homem que conheci no saguão do Jonas Building, absolutamente controlado e naturalmente poderoso. 
 “Em nosso país”, ele começou, “o abuso sexual na infância é uma realidade para 
uma a cada quatro mulheres e um a cada quatro homens. Dê uma boa olhada ao seu redor. 
Alguém da sua mesa pode ter sido uma vítima, ou então conhece uma. Essa é a inaceitável verdade.”
 Fiquei vidrada nele. Joseph era um grande orador, e seu tom de barítono era 
hipnotizante. Mas era o tema de seu discurso, tão pessoal para mim, e sua maneira 
apaixonada e às vezes surpreendente de abordá-lo que me emocionou. Comecei a amolecer, sentindo minha fúria injuriada e minha autoconfiança ferida dando lugar ao 
deslumbramento. Minha visão sobre ele mudou quando me vi apenas como mais um 
membro de uma plateia atenta. Ele não era mais o homem que tinha acabado de magoar 
meus sentimentos; era apenas um palestrante habilidoso falando sobre uma questão 
importantíssima para mim. 
Quando terminou, eu me levantei e aplaudi, surpreendendo tanto Joseph como a 
mim mesma. No entanto, os demais logo se juntaram a mim naquela ovação, e comecei a 
ouvir as conversas que zuniam ao redor, desmanchando-se discretamente em merecidos 

elogios. 
“Você é uma menina de sorte.” 
 Virei-me para ver de quem era a voz que havia dito aquilo, e me deparei com uma 
bela ruiva que parecia ter pouco mais de quarenta anos. “Somos só... amigos.” 
 Seu sorriso sereno fazia de tudo para me desmentir. 
 As pessoas começaram a abandonar as mesas. Eu estava prestes a pegar minha bolsa 
e ir para casa quando um jovenzinho se aproximou para falar comigo. Seus cabelos 
castanhos rebeldes despertavam uma inveja imediata, e seus olhos de um tom de verde 
acinzentado eram gentis e amistosos. Bonito e ostentando um sorriso jovial, ele arrancou de mim o primeiro sorriso sincero desde que saí da limusine. 
 “Olá.” 

 Ele parecia me conhecer, o que me deixou na desconfortável posição de fingir que fazia alguma ideia de quem ele era. “Olá.” 
 Ele deu uma risada, despreocupada e charmosa. “Meu nome é Christopher Vidal, 
sou irmão de Joseph.” 
 “Ah, é claro.” Senti meu rosto esquentar. Eu não conseguia acreditar que estava tão 
mergulhada na autopiedade que não fui capaz de fazer essa associação de imediato. 
 “Você ficou vermelha.” 
 “Desculpe.” Ofereci a ele um sorriso envergonhado. “Não sei muito bem como 
dizer que li uma reportagem sobre você sem que isso soe meio esquisito.” 
 Ele riu. “Fico feliz que tenha lembrado. Só não me diga que foi na coluna social.” 
 “Não”, eu me apressei em esclarecer. “Na Rolling Stone, talvez?” 
 “Isso eu consigo aceitar.” Ele estendeu o braço para mim. “Quer dançar?” 
 Dei uma olhada para Joseph, parado diante da escada que levava ao palco. Estava 
cercado de pessoas ansiosas para falar com ele, em sua maioria mulheres. 
 “Como você pode ver, meu irmão vai demorar um pouco”, disse Christopher, 
parecendo se divertir com a situação. 
 “Pois é.” Eu estava prestes a me virar quando reconheci a mulher ao lado de Joseph 
— Magdalene Perez. 
 Apanhei minha bolsa e me esforcei para sorrir para Christopher. “Eu adoraria 
dançar.” 
De braços dados, fomos até a pista. A banda começou a tocar uma valsa, e seguimos 
naturalmente o ritmo da música, com movimentos suaves. Ele era um dançarino habilidoso, ágil e seguro quanto à sua capacidade de conduzir. 
 “Então você é amiga de Joseph?” 
 “Não exatamente.” Acenei com a cabeça para Cary quando ele surgiu ao meu lado 
com uma loira escultural. “Trabalho no Jonas Building, e nós nos encontramos nos corredores uma vez ou outra.” 
 “Você trabalha para ele?” 
 “Não. Trabalho como assistente na Waters Field & Leaman.” 
 “Ah.” Ele sorriu. “Publicidade.” 
 “É.” 
 “Joseph deve estar muito a fim de você para passar dos encontros casuais nos corredores para um evento como este.” 
 Praguejei em silêncio. Sabia que as pessoas iam tirar conclusões, mas não estava 
nem um pouco disposta a ser humilhada. “Joseph conhece minha mãe, que foi quem me 
convidou para vir, então era só uma questão de duas pessoas irem ao mesmo lugar no 
mesmo carro ou em carros separados.” 
 “Então você está desacompanhada?” 
 Respirei fundo, sentindo-me desconfortável, apesar da fluidez com que nos 
movíamos na dança. “Bom, comprometida eu não estou.” 
 Christopher abriu seu carismático sorriso de menino. “Minha noite acabou de mudar 
pra melhor.” 
 Ele preencheu o restante do tempo da dança com piadinhas divertidas sobre a indústria musical, que me fizeram rir e esquecer um pouco Joseph. 
 Quando a música terminou, Cary estava a postos para a próxima dança. Nós dançávamos bem, tínhamos feito aulas juntos. Relaxei em seus braços, agradecia por ter seu 
apoio moral. 

 “Está se divertindo?”, perguntei. 
“Fiquei bobo durante o jantar quando percebi que estava sentado ao lado da principal organizadora da Semana de Moda de Nova York. E ela deu em cima de mim!” 
Ele sorriu, mas seus olhos pareciam assustados. “Toda vez que apareço em lugares como 
este... vestido deste jeito... é inacreditável. Você salvou minha vida, Demi. E depois a mudou completamente.” 
 “E você é a salvação da minha sanidade mental. Estamos quites, pode acreditar.” 
 Ele apertou minha mão e me olhou bem nos olhos. “Você não parece estar nada 
contente. O que foi que ele fez?” 
 “Acho que a culpa é minha. Depois a gente conversa sobre isso.” 
 “Você está com medo de que eu arrebente a cara dele na frente de todo mundo.” 
 Suspirei. “Acho melhor não, por causa da minha mãe.” 
 Cary deu um beijo de leve na minha testa. “Ele já estava avisado. Sabe o que vai ter 
pela frente.” 
 “Ah, Cary.” O amor que eu sentia por ele me provocou um nó na garganta, apesar 
de meus lábios sorridentes demonstrarem um divertimento relutante. Eu deveria saber que Cary daria uma de irmão mais velho para cima de Joseph. Era a cara dele. 
 Joseph apareceu ao nosso lado. “Agora é minha vez.” 

 Não foi um pedido. 
Cary parou e olhou para mim. Eu concordei. Ele se afastou fazendo uma reverência, 
com os olhos grudados em Joseph. 
 Ele me puxou para perto e partiu para a pista de dança da mesma maneira como 
fazia tudo na vida — com uma confiança absoluta. Dançar com Joseph era uma 
experiência completamente distinta em relação aos meus dois parceiros anteriores. Ele 
possuía ao mesmo tempo a habilidade de seu irmão e a intimidade com meu corpo que Cary demonstrava, mas seu estilo era ousado, agressivo, de uma sensualidade inerente. 
 Não ajudou muito o fato de, apesar da minha infelicidade, eu me sentir seduzida por 
aquele homem do qual tinha me sentido tão íntima pouco tempo antes. Seu cheiro era 
magnífico, recendendo a sexo, e o modo como ele me conduzia, com passos ousados e 
arrebatadores, fez com que eu sentisse um vazio dentro de mim, no lugar que ele havia 
ocupado pouco tempo antes. 
 “Você não para de fugir”, ele murmurou, provocando-me. 
 “Mas pelo jeito Magdalene soube ocupar meu lugar rapidinho.” 
 Ele ergueu as sobrancelhas e me puxou para mais perto. “Está com ciúmes?” 

 “Fala sério...” 
Olhei para o outro lado. 
 Ele fez um ruído de frustração. “Fique longe do meu irmão, Demetria.” 
 “Por quê?” 
 “Porque estou mandando.” 
 Fiquei irritada com aquilo, o que era uma coisa boa depois de toda a recriminação e 
de todas as dúvidas com que vinha lidando após treparmos como dois coelhos no cio. 
Decidi pagar para ver se virar a mesa era uma opção viável no mundo de joseph Jonas. 
“Fique longe da Magdalene, Joseph.” 
 Ele cerrou os dentes. “Ela é só uma amiga.” 
 “Isso quer dizer que você não dormiu com ela...?” 
 “Claro que não. Nem quero. Escute...” A música desacelerou e diminuiu de volume. 
“Preciso ir. Eu trouxe você aqui e gostaria de levá-la para casa, mas não quero estragar a 

diversão. Você prefere ficar por aqui e ir embora com Stanton e sua mãe?” 
Minha diversão? Ele estava de brincadeira ou tinha perdido totalmente a noção? Ou 
pior. Talvez estivesse tão desinteressado que nem prestava atenção em mim. 
 Eu o afastei um pouco, precisava criar certa distância. O cheiro dele mexia com 
minha cabeça. “Vou ficar bem. Me deixe.” 
 “Demetria.” Ele tentou me tocar, mas dei um passo atrás. 
 Um braço aparou minhas costas, e eu ouvi a voz de Cary. “Pode deixar que eu cuido 
dela, Jonas.” 
 “Não complique as coisas, Taylor”, alertou Joseph. 
 “Pelo que estou vendo, você já fez isso muito bem sozinho”, ironizou Cary. 
 Engoli em seco, superando o nó que havia na minha garganta. “Você deu um 
belíssimo discurso, Joseph. Foi o ponto alto da minha noite.” 
 Ele respirou fundo diante do insulto que aquilo implicava e depois passou a mão 
pelos cabelos. De forma abrupta, soltou um palavrão, e eu entendi o porquê quando ele 
sacou o telefone do bolso e olhou para a tela. 
 “Preciso ir.” Seu olhar capturou o meu e o manteve prisioneiro. Seus dedos 
passearam por meu rosto. “Mais tarde eu ligo.” 
 E ele foi embora. 
 “Você quer ficar?”, Cary perguntou em voz baixa. 
 “Não.” 

 “Eu levo você pra casa, então.” 
“Não, não precisa.” Eu queria ficar um tempo sozinha. Afundar-me em uma 
banheira quente com uma garrafa de vinho e sair daquele estado de agitação. “É melhor 
você ficar. Pode ser bom pra sua carreira. A gente conversa quando você chegar. Ou 
amanhã. Quero ficar o dia inteiro em casa sem fazer nada.” 
 Ele me lançou um olhar inquisitivo. “Tem certeza?” 
 Confirmei com a cabeça. 
 “Certo.” Mas ele não parecia muito convencido. 
 “Se puder mandar buscar a limusine de Stanton, preciso dar uma passadinha no 

banheiro.” 
“Tudo bem.” Cary passou a mão pelo meu braço.“Vou pegar seu xale no guarda-volume  e encontro você lá na frente.”
A visita ao banheiro demorou mais do que deveria. Para começar, um número surpreendente de pessoas me parou para conversar, e o motivo disso só podia ser o fato de eu ter chegado acompanhada de Joseph Jonas. Além disso, evitei o banheiro mais próximo, que tinha um grande fluxo de mulheres entrando e saindo, e encontrei um mais distante. 
Tranquei-me na cabine e fiquei ali um pouco mais de tempo do que tinha levado para fazer o que era necessário. Não havia mais ninguém ali além da funcionária responsável, não havia motivo para me apressar.
 Eu estava tão chateada com Joseph que mal conseguia respirar, e estava absolutamente perplexa com suas mudanças de humor. Por que ele havia acariciado meu rosto daquele jeito? Por que tinha se aborrecido por eu não ter permanecido ao lado dele? E 
por que tinha tratado Cary daquele jeito? Joseph dava um novo significado à velha 
descrição de uma pessoa “de lua”. 
Fechei os olhos e retomei a compostura. Minha nossa. Eu não precisava passar por 
tudo aquilo.  Tinha exposto os meus sentimentos naquela limusine e estava extremamente 

vulnerável — uma sensação que tinha me custado infinitas horas de terapia para aprender a
evitar. Eu só queria ir para casa e me esconder, libertar-me da pressão de agir como se 
estivesse tudo bem.  Você entrou nessa porque quis, lembrei a mim mesma. Agora aguenta.  Respirando fundo, saí do banheiro e dei de cara com Magdalene Perez parada de braços cruzados. Ela estava claramente à minha espera, procurando o momento certo para me pegar com a guarda baixa.